Marco Reus é torcedor do Borussia Dortmund desde criança, e depois de uma infância na base do clube aurinegros, rodou por clubes como o Monchengladbach até retornar, em 2012, à sua casa. E desde então não saiu mais.
Ídolo maior do time desde então, o meia-atacante concedeu extensa entrevista exclusiva para o DAZN e Goal. Dentre os temas abordados, relembrou de quando Mario Gotze, seu amigo e hoje novamente companheiro de equipe, trocou o Dortmund pelo Bayern em 2013.
“Ele me disse pessoalmente que ele ia sair do clube e tomar um caminho diferente. Naquele momento eu não sabia o que dizer ou pensar. Eu tinha chegado há pouco no Dortmund e parecia que nós seríamos uma boa dupla. Sua decisão foi difícil para eu entender no momento. Nós tínhamos um bom time para os próximos anos. Eu tinha o sentimento que nós nos encaixávamos e poderíamos jogar melhor juntos”, disse. Confira esta resposta e muitas outras abaixo!
Marco, quando criança Kevin Großkreutz ia à Muralha Amarela regularmente com seu pai. Como foi sua primeira experiência em um estádio?
Reus: Provavelmente não foi tão intense quanto a de Kevin. Quando você nasci aqui em Dortmund, você naturalmente cresce com amarelo e peito no coração. Meus pais e minha família sempre foram torcedores do Dortmund e direto iam ao estádio. Eu também fui lá com meu pai algumas vezes, mas não regularmente como era o caso de Kevin.
Em 1995 você trocou o PTSV Dortmund pelo Borussia Dortmund. Como isso aconteceu?
Reus: Nós sentamos à mesa com a família em um domingo. Meu pai me disse que eu tinha algumas ofertas da região: de Bochum, Dortmund, Wattenscheid e alguns outros clubes. Depois eu precisei pensar no que seria melhor para mim. No fim acabou sendo uma decisão simples para mim, como fã do Borussia Dortmund
Quais memórias você tem dos seus primeiros dias no Borussia Dortmund?
Reus: Quando você está em uma idade que não se preocupa muito você só fica feliz com a situação. Mas eu lembro que no começo de cada temporada nós ganhávamos uma mala com as roupas de treinamento. Eu sempre ficava ansioso para isso porque era bem legal e eu pensava: essas roupas também são dadas aos profissionais. Mesmo que ser profissional ainda estivesse longe de mim naquela época, um sonho de infância se cumpriu em mim quando eu estava pronto para vestir as roupas de treino.
Em grandes clubes os jogadores jovens têm seus futuros resolvidos ao final da temporada. Como você lidava com isso?
Reus: Todos os anos o treinador ia ao vestiário para dizer o que o clube estava planejando para nós. A gente ficava sentado e ficávamos ansiosos. Antes nós já falávamos sobre quem eles deveriam pegar. Os pais de cada jovem ficavam no centro de treinamento e esperavam do lado de fora. Era um momento crítico para todo mundo. Se alguém era descartado, a decepção era enorme. Por outro lado, aqueles que conseguiram subir de categoria era um momento incrível. Eu tinha o sonho de conseguir chegar no topo e esperava que o próximo treinador estivesse ao meu lado e me quisesse no seu time no próximo ano.
Como era o seu papel em campo entre seus 12 e 15 anos?
Reus: Naquela época eu jogava regularmente. Não foi isso que aconteceu depois. Nessa idade você entra em um período em que as coisas ficam mais difíceis e o corpo tem um papel crescentemente importante. Os adversários eram maiores e eu era bem menor naquela época. Por isso, eu precisava encontrar outras soluções para passar dos meus oponentes e chamar atenção para mim.
Em janeiro de 2005 você mudou do Borussia Dortmund para Rot-Weiss Ahlen. Nos meses anteriores você imaginou que não daria certo no Dortmund?
Reus: Honestamente não. Tivemos uma Bundesliga Junior bem forte com nosso sub-16 e sub-17. Eu me preparei bem no verão e eu esperava algo. No primeiro dia de jogo eu fui substituto, como lateral-direito. Claro que isso não era satisfatório. Em algumas partidas eu nem sequer joguei. Logo ficou claro que aquela temporada seria difícil. Quando jogamos com o Borussia Dortmund em Ahlen, meu pai perguntou para o coordenador da base se eu poderia fazer um teste lá. Assim as coisas tomaram seu caminho.
Houve notícias de que você tinha sido dispensado pelo clube. Não foi esse o caso?
Reus: Não. Essa iniciativa partiu de mim. Mas com certeza o fato de eu ser considerado muito pequeno e fraco também foi um agravante. Eu posso dizer a todos que é legal jogar no Borussia Dortmund, Bochum, Schalke, Bayern e outros grandes clubes no sub-17 ou sub-19. Mas a prioridade máxima é jogar e se diverter. É o único jeito de se desenvolver e de dar certo. Claro que há fases em que nada funciona direito. Você tem que enfrentar e não fugir. Mas se a perspectiva não está lá, você precisa mudar seus pensamentos. Eu tomei uma decisão relativamente rápida de me mudar para Ahlen.
Você entende que sua estatura era a questão?
Reus: Qualidade sempre deveria vir em primeiro lugar. Por que não deixar alguém jogar se a qualidade está ali? Se você é pequeno ou fraco não faz diferença. Eu não consigo entender isso até hoje. Agora eu consigo rir disso, mas no momento era muito difícil de entender.
Quais foram suas primeiras impressões no Ahlen?
Reus: Os jogadores também estiveram na Bundesliga Junior, então o nível era parecido com o do Borussia Dortmund. Nós tínhamos atletas super talentosos que chegaram de diferentes partes da North Rhine-Westphalia. Por isso tivemos um sucesso relativamente precoce. Eu tive pouca dificuldade de me ajustar, embora não tenha sido fácil porque eu cheguei no inverno. É sempre difícil entrar em um time ajustado e se integrar. Mas eu fui muito bem recebido por todo mundo. Esse é sempre um fator importante para atuar bem.
Com o sub-19 do Ahlen você jogou três partidas contra o sub-19 do Borussia Dortmund e marcou três gols. Como foi a satisfação?
Reus: Eu lembro bem do jogo que eu atuei metade do período. Aquilo foi aqui em Brackel no campo de treino. Exatamente onde nossas sessões de treinamento estão acontecendo. Eu estava bem ansioso antes do jogo. Eu não sentia que precisaria provar nada, mas é claro que eu fiquei feliz no final das contas porque um fiz uma boa performance.
Großkreutz também jogou pelo Ahlen. Vocês iam juntos aos treinamentos.
Reus: Kevin já era profissional e estava totalmente integrado. Eu cheguei ao time principal cerca de dois anos depois de eu me mudar para o Ahlen e nós acabamos indo juntos muitas vezes para o treino usando o trem. Era divertido que dois rapazes do Dortmund iam juntos ao Ahlen dia após dia e depois se veriam em outro clube.
Durante o período no Ahlen, falou-se que Großkreutz ia a partidas fora de casa do Borussia Dortmund antes de suas próprias partidas com o Ahlen. Você fez isso também?
Reus: Não. Honestamente eu não prestava muita atenção. Se isso é verdade, Kevin foi muito esparto. Se jogássemos na sexta e o Dortmund no sábado, ele provavelmente aproveitaria a oportunidade para ir ao estádio com seu pai, que é bem louco também. Não foi tão intenso assim comigo. Eu assistia aos jogos do Borussia Dortmund de casa, na maioria das vezes.
Großkreutz voltou ao Borussia Dortmund em 2009 enquanto você ia para o Gladbach.
Reus: Nós tínhamos um time muito bom no Ahlen à época e jogamos uma temporada forte. Era claro que o time se desmancharia por causa do sucesso. Kevin poderia ter tido ofertas de qualquer lugar do mundo, mas ele iria para o Dortmund de qualquer jeito. É o clube dele. Um sonho de
infância se concretizou para ele. Eu escolhi o outro Borussia. Pessoalmente para mim foi uma decisão muito boa, sem a qual eu não estaria aqui hoje.
O Dortmund já tinha interesse em você naquela época?
Reus: Eu não sei. Eu acho que o Borussia Dortmund não tinha muito dinheiro naquela época e por isso não podia gastar muito no mercado de transferências. Dortmund assinou com o Kevin e para mim chegou uma proposta do Gladbach. Em pouco tempo ficou claro que eu queria ir ao Gladbach, sem nem saber se tinha uma proposta do Dortmund por mim também.
Quais as razões levaram você a escolher o Gladbach?
Reus: Eu sou fã de continuidade e eu queria continuar no Ahlen por outro ano. Eu tinha terminado meu primeiro ano a segunda divisão da Bundesliga, tinha jogado 27 partidas e sentia que ainda estava muito cedo para o próximo passo. Max Eberl tomou conta de mim. Eu visitei Monchengladbach algumas vezes, vi o estádio e a infraestrutura. Foi muito impressionante. Ainda assim, meu pai e conselheiro precisou brigar para me colocar no meu caminho.
Como foi sua primeira conversa com Eberl?
Reus: Max é um grande cara. A gente ainda se fala hoje se temos a oportunidade. Eu só posso elogiá-lo muito porque ele não somente fez um grande trabalho como treinador por muitos anos, mas também porque ele é caracteristicamente perfeito. Você também pode conversar com ele sobre coisas particulares e ele é sempre atencioso. Ao primeiro encontro eu senti que as coisas se encaixariam. Claro, eu também era mais reservado à época porque eu vim da segunda divisão, de um clube que não é muito falado. Eu não conseguia estimar quão grandes eram minhas habilidades. Por isso eu precisava de um tempo, mas Max sempre me apoiou. Eu sou muito, muito grato a ele.
No verão de 2012 você retornou ao Borussia Dortmund. Como foi essa tomada de decisão?
Reus: Por um lado eu me sentia muito confortável no Gladbach. Nós tínhamos um time forte e sempre prezamos pela continuidade, como eu já disse. Eu sentia que poderíamos montar um time para jogar campeonatos continentais nos próximos anos, algo que o Gladbach não tinha feito nos anos anteriores. Por outro lado, não existem duas ou três oportunidades em que o clube da sua terra quer que você volte. Eu pensei muito, criei uma lista de prós e contras. Depois, relativamente rápido eu tomei uma decisão de que eu queria voltar ao Borussia Dortmund. De fato, foi uma decisão do meu coração.
Como você se lembra da sua primeira conversa com Jürgen Klopp?
Reus: Oh, meu Deus. Jürgen era um animal. Você só conhecia alguém como ele pela TV. Se Jürgen se senta na sua frente com sua aura e sua agressividade, que ele irradia mesmo quando fala, com seu tamanho, é bastante impressionante. Mesmo o jeito que ele fala com você, ele te conquista e não deixa você ir. Eu saí da conversa com o coração transbordando. Com certeza ele foi um dos motivos pelo qual eu assinei pelo Dortmund.
Klopp é primeiramente definido por emoções. Ele te convenceu em termos de conteúdo?
Reus: Antes de uma temporada você faz muitos planos. Mas muitas coisas inesperadas podem acontecer, como mudanças de sistema ou lesões, que podem mudar tudo. Quando um clube quer contratar um jogador é muito importante que o técnico ensine a filosofia e o que ele quer. Não foi diferente comigo. Shinji Kagawa assinou pelo Manchester United naquele ano, eu era o substitute. Nós falamos sobre a posição que ele me via jogando e em quais áreas eu poderia melhorar. Jürgen consegue desenvolver os jogadores e melhorá-los. Esse é um fator importante. Ele tem um jeito especial no treinamento e nas interações pessoais.
No verão de 2013 Mario Götze foi para o Bayern. Já em abril a questão apareceu publicamente um dia antes do primeiro jogo da semifinal da Champions League contra o Real Madrid. Como você ficou sabendo da transferência?
Reus: Eu estava em casa, tocou a campainha e Mario estava na minha porta. Ele me disse pessoalmente que ele ia sair do clube e tomar um caminho diferente. Naquele momento eu não sabia o que dizer ou pensar. Eu tinha chegado há pouco no Dortmund e parecia que nós seríamos uma boa dupla. Sua decisão foi difícil para eu entender no momento. Nós tínhamos um bom time para os próximos anos. Eu tinha o sentimento que nós nos encaixávamos e poderíamos jogar melhor juntos.
Você ficou bravo?
Reus: Eu não diria isso. Mas claro que você sempre quer jogar com os melhores. Quando um dos melhores se vai, fica difícil de entender. No final, cada um toma suas decisões. Você só tem uma carreira. E se era a melhor escolha para ele, todos precisavam aceitar.
As reações após a transferências foram bem duras. Como você viveu esse período?
Reus: Eu dei carona para o Mario antes do jogo da Champions League contra o Real Madrid. Ele estava sentado no banco de trás do carro, a torcida estava esperando por ele. Não foi uma situação fácil. Eu sei como ele viveu aquilo e senti que eu não queria estar na pele dele. A pressão em seus ombros. Pessoas de fora não conseguem entender isso. Mario lidou muito bem com a situação, fez um grande trabalho e deu uma assistência para gol. Por isso ele merece tanto respeito. Não precisamos falar sobre a forma como a informação chegou ao público. Com sorte conseguimos levar a torcida com a gente, caso contrário nós não poderíamos jogar do jeito que jogamos.
As reações mostram o quanto os negócios no futebol inflamam o público?
Reus: Quando um grande jogador deixa o clube, você, como torcedor, fica decepcionado. Você sempre quer os melhores jogadores no clube. Mas você também precisa entender o jogador e aceitar que ele escolheu esse caminho para a carreira dele. Claro, você pode discutir sobre isso, se é certo ou errado. Mario era um diamante bruto incrível naquela época. O fato de ter ido ao clube, que foi e é o nosso maior concorrente, que fez o Bayern ainda mais forte, foi extremamente decepcionante para os fãs. Foi duplamente difícil.
No primeiro jogo contra o Real, o time se sobressaiu no 4 a 1. Na segunda partida foi mais apertado. Como você viveu essa montanha russa na semana?
Reus: Naquele ano eu esperava qualquer coisa daquele time – e nós quase conseguimos. Nós éramos incrivelmente bons, tínhamos jogadores muito rápidos, mas também tínhamos aqueles que trabalhavam e lutavam. Éramos uma estrutura estável com amplitude. No primeiro jogo contra o Real eu não senti que íamos perder, mesmo depois que Ronaldo empatou o jogo. Claro, foi difícil, mas em algum momento nós jogamos como em um frenesi.
E o segundo jogo?
Reus: Foi um inferno completo. Os últimos 10 minutos foram os mais longos da minha carreira. No Santiago Bernabeu as arquibancadas gritavam muito alto e a situação no campo ficou uma grande pressão. O Real marcou os gols relativamente tarde, depois tivemos a oportunidade de decidir o jogo. Depois do apito final você fica tão emocionalmente feliz, mas também muito cansado. O jogo simplesmente exigiu muita força, mesmo que mentalmente. Finalmente, foi um momento de ouro.
Como você avalia a final da Champions League contra o Bayern em sua perspectiva atual?
Reus: Fomos muito fortes no primeiro tempo. Claro que você sempre especula se as coisas seriam diferentes se tivéssemos aberto o placar. Então, é justo dizer que fomos perdendo a força no final. Os bávaros são muito experientes. Eles tiveram a solução certa no momento certo. Acabou tudo com o gol de Arjen Robben.
Naquela época você tinha 23 anos. Agora você tem 30 e é o capitão do Borussia Dortmund. Como esse papel foi mudando?
Reus: Para mim o foco é sempre me diverter com o futebol. Basicamente eu sei das minhas responsabilidades. Você aprende a lidar com isso ao longo dos anos. Você não consegue fazer isso com 22 ou 23 anos, mas com 26 ou 27. Aí você descobre sobre o que você é responsável. Eu acho que em um time todos têm que ter responsabilidade. Mas como capitão você tem um pouco mais de responsabilidade porque você precisa liderar o time nos momentos difíceis. Para mim muitas vezes essa é uma situação nova. Com o tempo você cresce na função e começa a saber em quais situações você tem que falar algo ou ficar calado.
Você recentemente se tornou um pai. Como sua vida mudou?
Reus: É o sentimento mais bonito do mundo. Na véspera você não consegue imaginar o que está vindo e como aquela coisinha se parece. É um momento em que eu gostaria de registrar para sempre com todas as emoções. Um momento indescritível. Você percebe que algumas coisas não são tão importantes como eram antes. Você de repente tem uma criança em casa que precisa de você, que ainda não sabe dizer para você o que ela quer. Há muitos momentos incríveis todos os dias que são lindos e que eu realmente gosto.