O torcedor rubro-negro viveu duas emoções mais fortes com a exibição brilhante de Arrascaeta, na manhã de domingo (14), na goleada por 6 a 1 sobre o Goiás. A primeira delas obviamente foi a felicidade de testemunhar aquela que provavelmente seja, até agora, a maior atuação individual de um jogador na temporada 2019 do futebol brasileiro; a segunda foi saborear o doce gosto de ter tido razão com as críticas direcionadas a Abel Braga, pela relutância do ex-técnico do Flamengo em escalar o uruguaio.
Arrascaeta abriu o placar sobre o Esmeraldino, na volta do Brasileirão após a pausa para a Copa América, e participou do segundo gol antes de fazer o terceiro e o quarto. Depois seguiu a esbanjar categoria ao dar as duas assistências para Gabigol fechar a goleada na estreia do técnico português Jorge Jesus, e também do lateral-direito Rafinha, dentro do Maracanã. Mostrou por que carrega consigo a etiqueta de contratação mais cara na história flamenguista. Em seu segundo jogo sob o comando do português, quase igualou a participação ofensiva que teve nas 22 vezes em que vestiu a camisa rubro-negra sob as ordens de Abel Braga [4 gols, duas assistências].
É impossível falar sobre a criticada passagem de Abel Braga sem usar Arrascaeta como exemplo. A principal contratação do time não convencia o treinador, que apenas lhe dava maiores chances no Campeonato Carioca. O empate sem gols contra o Peñarol, ainda pela fase de grupos da Libertadores, simbolizou bem uma imaginável “implicância” do treinador carioca com o camisa 14: precisando de um gol, Abelão fez uso de todas as substituições e Arrascaeta seguiu no banco, para a revolta dos flamenguistas que lotaram o Maracanã naquela noite.
Aproveitamento sem Abel
Foi apenas Abel sair, pedindo demissão em meio às especulações que já colocavam o português Jorge Jesus em seu cargo, que Arrascaeta deslanchou. Recebeu mais oportunidade, mas acima de tudo talvez tenha passado a se sentir mais à vontade. Ainda sob o comando do interino Marcelo Salles fez, contra o Fortaleza, a sua melhor exibição até então, dando as assistências para a vitória por 2 a 0 sobre os cearenses, na sétima rodada do Brasileirão. Naquela única partida, a primeira sem Abel Braga, já igualara o número de passes para gol que tinha até então.
Mas o suprassumo, a catarse geral, veio contra o Goiás. Tanto o seu nome quanto o de Abel Braga apareciam nos assuntos mais comentados do Twitter no Brasil, evidenciando a exaltação de um em contraste com outra condenação para o treinador. Sob o comando de Abelão, Arrascaeta teve momentos importantes, especialmente contra o Vasco em momentos decisivos do caminho que terminou com título carioca. Não foi o bastante para lhe dar a posição de titular absoluta que era óbvia para todos, menos para o então comandante.
Nos três jogos desde então, Arrascaeta quase multiplicou por dez a sua participação direta em gols. Se nos 22 jogos sob o comando do ex-treinador o uruguaio decidia com 0,27 gols ou assistências por jogo, o número hoje é de 2,6 a cada partida.
Quase dez vezes melhor [9,6, mais especificamente].
Evidentemente que a média deve diminuir, mas ao sentir-se mais à vontade para fazer o que todos sabem que ele sabe, Arrascaeta já desponta como um dos candidatos a craque do campeonato. Se mantiver uma regularidade ainda que com números menores, dificilmente não o será.
Elogios a Jorge Jesus
E o crescimento recente, sob nova direção, não passou desapercebida também pelo uruguaio, que fez questão de elogiar o treinador português em entrevista concedida ao SporTV: "A gente tem incorporado rápido a ideia do treinador, as coisas que ele pede. Ele me passou muita confiança. Para o jogador, isso é muito importante. Eu tenho dois jogos com ele e 90 minutos em cada jogo, isso é importante, estou tendo sequência", disse, deixando em aberto a interpretação quase automática de que hoje ele tem algo que lhe faltava antes.