Após a derrota por 2 a 1 sofrida para o Borussia Dortmund, terça-feira (18), no primeiro jogo das oitavas de final da Liga dos Campeões, Neymar surpreendeu ao criticar as decisões médicas tomadas pelo PSG.
O brasileiro garantiu que poderia ter voltado a jogar dias antes, contra o Lyon, e ter chegado com ritmo de jogo melhor. Minutos depois, já ciente das palavras ditas pelo camisa 10, o técnico Thomas Tuchel reconheceu que Neymar não estava no seu melhor ritmo e falou sobre a preocupação que tinha com os jogadores que vinham de lesão. Mas também deu um “puxão” de orelha em Neymar ao falar sobre o excesso de bolas perdidas.
“Tivemos preocupações com jogadores-chave, a falta de ritmo e a dureza da competição como vimos com Neymar”, disse. “A nossa posse de bola não foi estável o bastante (...) erramos muito em posições desnecessárias”.
Neymar perdeu a posse de bola 31 vezes contra o Dortmund, o dobro em relação aos seus companheiros. A quantidade também reflete a vontade do camisa 10 em participar do jogo? Sem dúvidas. E vale destacar que Neymar, que fez gol, não teve atuação ruim. Mas as suas reclamações e a observação de Tuchel servem, muito mais, para exemplificar como funciona a relação entre o jogador e o treinador.
Como tudo começou...
A relação começou de vento em popa a partir da chegada do alemão ao Parque dos Príncipes, em 2018. Dentro do pacote que convenceu o PSG a apostar em Tuchel, o caráter disciplinador e estudioso era visto como pontos positivos para lidar com uma estrela tão complicada em um vestiário que também não é para iniciantes.
Os capítulos iniciais na relação entre Tuchel e Neymar não poderiam ser melhores. O técnico chegou dizendo que o brasileiro era um artista da bola, um jogador-chave e inclusive arriscou ao tirá-lo momentaneamente da ponta-esquerda para lhe dar um protagonismo de “Camisa Dez”, mais centralizado.
Neymar chegou a defender publicamente Tuchel, depois que o treinador barrou Mbappé por conta de um atraso nos treinos, e o comandante, meses depois, defendeu as férias antecipadas que o craque recebeu em dezembro, enquanto se recuperava de um problema na coxa.
Problemas em meio às polêmicas
Foi no primeiro semestre de 2019 que, por conta das polêmicas protagonizadas por Neymar, como a agressão sobre um torcedor do Rennes após derrota na Copa da França, além de outras questões extracampo, como a presença do astro no carnaval carioca enquanto se recuperava de lesão, que Tuchel começou a ser mais enérgico.
Em julho de 2019, o técnico criticou Neymar por chegar atrasado em atividades durante a fracassada tentativa do jogador em voltar para o Barcelona. Mas o alemão também aparecia para defender o atleta em outras ocasiões, sem nunca deixar de lado o bom senso para observar cada situação. Foi o caso em setembro do ano passado, quando disse que o brasileiro tinha que aceitar as vaias de seus próprios torcedores – revoltados pela novela com o Barça.
O fim dos privilégios
Foi na reta final de 2019 que Tuchel não conseguiu evitar em esconder, publicamente, outros descontentamentos. Reprovou publicamente a ida do brasileiro para Madri, durante a Data Fifa, enquanto a expectativa era a de que Neymar ficasse mais centrado em se recuperar de uma lesão na coxa.
Aquele foi um marco do “fim dos privilégios” que o atleta tinha e a atitude fez Tuchel ganhar pontos com outros jogadores do elenco. Foi também na mesma época em que o alemão confessou o óbvio ao dizer que não e fácil administrar Neymar.
A declaração pode parecer forte e antipática, mas ajuda também a explicar que não há, ao menos hoje, extremos na forma como um lida com o outro. Existe admiração mútua.
“Ele tem um coração grande, mas, infelizmente, nem sempre mostra que é um garoto generoso e confiável. Às vezes, é provocador e muito ruim porque não é necessário. Eu digo isso a ele. Nós rimos muito juntos e sempre tento dizer a verdade. Ele aceita, mas é difícil”, afirmou na ocasião, em entrevista para a France Info.
Meses antes, uma declaração de Neymar passou mensagem bem parecida: “tem muito respeito mútuo. Eu o respeito como treinador, porém quando tem que falar com sinceridade, ele fala. Desde a primeira vez que conversamos, desenvolvi muito afeto com ele. Quando tem tanta confiança com seu treinador, você dá a vida em campo. Por ele, farei o possível para ganhar”, disse em janeiro de 2019 ao Canal +.
Entre uma rusga aqui e outra ali, a certeza no relacionamento entre Neymar e Tuchel é a presença da sinceridade o tempo todo. O problema é o quanto algumas atitudes de Neymar possam irritar o treinador, e o quanto suas palavras podem ou não serem aceitas pelo jogador.